quarta-feira, 4 de agosto de 2010

C A R T A D E N Ú N C I A - DESAPROPRIAÇÃO DA CHAPADA DE APODI/RN



Sou membro de uma família camponesa serrana, cuja prole é de 06 (seis) filhos, contando hoje com 49 anos de idade. Meu pai para nossa maior alegria completou ontem (03.06.10 - dia Santificado de Corpus Cristi) 89 anos de vida pacífica, cuja índole merece respeito e admiração, com perfeita saúde e total lucidez.

Nascemos todos nesse torrão rachado da serra de Apodi/RN, hoje mais conhecida como chapada de Apodi, ambicionada por empresários vorazes e outros que tentam usurpá-la do nosso domínio, deixando-nos à margem do abandono e do esquecimento como sempre temos vivido, apesar de exercermos o direito do voto na escolha dos nossos governantes que tudo prometem e nada fazem.

Vivi, ao lado de meu pai e de meus irmãos, no decurso desses anos de camponês sofrido e abandonado, bons invernos, por vezes enchentes cruéis, como também vivemos o drama terrível de várias secas por vezes até consecutivas.

Assistimos com tristeza, sob um sol causticante e inclemente, a fome devorar quase por completo nossos pequenos rebanhos de gado e bode sem a ínfima condição de salvá-los. Mas quando a voz do trovão anuncia a chegada da chuva, o verde da paisagem serrana colorindo nossos olhos, enche-nos o coração de alegria, a alma de felicidade! E é nesse estado de arrebatamento íntimo que vejo quão profundo é o amor que sentimos por essa TERRA.

Meus pais, avós e outros ascendentes também fizeram histórias nessas paragens, quando os recebeu em seu solo bendito, os criou, os alimentou, resguardando com esmero rastros inapagáveis de tantas gerações.

Enfrentaram eles, àquela época remota feras vorazes como onças-vermelhas, onças-pintadas que perseguiam e desfalcavam seus rebanhos caprinos, ovinos e bezerros recém-nascidos, por vezes matando o onceiro (cão caçador de onça) e enfrentando o próprio homem quais lobos famintos e traiçoeiros.

Hoje, extintas tais feras surgiram outras, MAIS, MUITO MAIS avassaladoras - o HOMEM! Este sim vem destruindo todos os nossos sonhos, nossa paz, nossas terras, porquanto as desapropriando, blefando para nossa população pouco instruída, desenhando um quadro belíssimo através de um falso projeto de irrigação, que não passa de lavagem de dinheiro, como se constata nos demais projetos de irrigação dos Estados do Ceará e do Pernambuco, todos em total falência.

Quando não conseguem iludi-los, fazem ameaças, invadem as terras sem comunicar ou pedir permissão aos seus proprietários, abrindo picadas, colocando marcos, se sobrepondo ao direito de propriedade particular amparado pela Constituição Federal.

Perguntei em um desses dias ao meu pai: Pai, como o senhor Receberia a notícia da desapropriação de nossa terra?

Vi a tristeza estampar-se em seu semblante, seu sangue parecia esvair-se do seu rosto, tive medo! Arrependi-me de tal questionamento.

Ele, com muita dificuldade respondeu-me, com voz trêmula e sumida: Que Deus me tire desta vida antes dessa hora. Como se vê é uma morte antecipada para todos nós.

Que os governantes pretendem se reeleger defendam nossa causa, amparando nosso direito à propriedade privada. A G U A R D A M O S...
Leitor anônimo

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